quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O Legado Grego.

Deuses muito humanos
Estátua de Zeus.

Como a maior parte dos povos da Antiguidade, os gregos eram politeístas. Seus deuses, entretanto, assim como os seres humanos, eram dotados de sentimentos de raiva, de ódio, de compaixão. A maioria dessas divindades habitava o monte Olimpo, a mais alta montanha da península Balcânica. Segundo a mitologia grega (conjunto de mitos e crenças daquele povo), alguns desses deuses chegaram a manter relações sexuais com seres humanos, gerando filhos conhecidos como heróis ou semideuses.

A religião dos gregos não tinham drogmas ou mandamentos. Desde que não provocasse a fúria divina, a crença era livre. O culto religioso tinha o objetivo de assegurar proteção ao indivíduo, à família ou à cidade. A divindade mais importante era Zeus , considerado o deus dos deuses do Olimpo. Senhor dos raios e da chuva, era também o protetor de toda a Grécia. Havia inúmeras divindades, dentre as quais as mais conhecidas são:

Hera, esposa de Zeus, protetora do casamento e da família.
Apolo, deus do Sol e das profecias, ensinou a organização social à humanidade, com o auxílio das Musas, suas seguidoras.
Ártemis, deusa da Lua e da caça.
Hermes, o veloz mensageiro de Zeus, protetor dos viajantes, do comércio, dos atletas e dos ladrões.
Hefestos, deus do fogo, dos vulcões e dos ferreiros.
Afrodite, deusa do amor e da beleza.
Palas Atenas, deusa das batalhas, da inteligência e das artes, protetora da cidade de Atenas.

Na Terra reinavam Deméter, que protegia os agricultores e as colheitas, e Dioniso, protetor dos vinhedos. Nos mares, reinava Posêidon, irmão de Zeus. No reino dos mortos, no interior da Terra, ficava Hades, outro irmão de Zeus.

Para conhecer a vontade dos deuses, os gregos interpretavam certos sinais – os presságios – ou dirigiam-se aos oráculos, isto é, a santuários nos quais sacerdotes respondiam às consultas feitas às divindades.

Outra manifestação religiosa eram as festas para homenagear os deuses. As mais importantes eram os Jogos Olímpicos , realizados para Zeus na cidade de Olímpia. Nessas ocasiões, estabelecia-se uma “trégua sagrada” e até as guerras eram interrompidas.

Fábulas de Esopo.

Fábulas de Esopo
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Esopo, como descrito na Crônica de Nuremberg de Hartmann Schedel. Aqui ele é mostrado usando roupa alemã do século XV

As fábulas de Esopo são uma coleção de fábulas creditadas a Esopo (620—560 a.C.), um escravo e contador de histórias que viveu na Grécia Antiga.[1] As fábulas de Esopo tornaram-se um termo branco para coleções de fábulas brandas, usualmente envolvendo animais personificados.

As fábulas remontam uma chance popular para educação moral de crianças hoje. Há muitas histórias incluídas nas fábulas de Esopo, tão como A raposa e as uvas (de que o idioma "uvas verdes" foi derivado), A Cigarra e a Formiga, A tartaruga e a lebre, O vento norte e o sol e O menino que gritava lobo, O Lobo e o Cordeiro são bem conhecidas pelo mundo afora.

Assim, podemos dizer que em toda parte, a fábula é um conto de moralidade popular, uma lição de inteligência, de justiça, de sagacidade, trazida até nós pelos nossos Esopos.

No século III d.C. Apolônio de Tiana, o filósofo do século I d.C. recordou como tendo dito sobre Esopo:
Cquote1.svg como aqueles que jantam bem nos pratos mais planos,ele fez uso de humildes incidentes para ensinar grandes verdades, e após servir uma história ele adiciona a ela o aviso para fazer uma coisa ou não fazê-la. Então, também, ele foi realmente mais atacado para verdade do que os poetas são Cquote2.svg
— '
Referências

↑ http://fabulas.esopo.googlepages.com

quarta-feira, 14 de maio de 2008

A História do Cifrão

O cifrão, cujo símbolo é , é o marcador de moeda de alguns países: Brasil (real), Estados Unidos da América (dólar),etc.
O símbolo está fortemente associado ao contexto monetário/financeiro.

[editar] História
Com o passar dos anos as moedas começaram a ter uma representação gráfica, geralmente constituída por duas partes: uma sigla de designação abreviada para o padrão monetário, que varia de país para país, e o cifrão, símbolo universal do dinheiro e que se origina etimologicamente do árabe cifr, que em português também originou cifra.
O general Táriq-ibn-Ziyád, o Conquistador, em nome dos Califas Omíadas comandou a invasão do reino Visigodo no ano 711 da era cristã. Existem duas versões quanto ao caminho percorrido pelo general árabe. A primeira, em que teria Táriq partindo de Tânger, cidade de Marrocos, e da qual era governador. A Segunda, em que, para alcançar a Europa, teria Tárique partido da Arábia e passado, sucessivamente, pelo Egito, desertos do Saara e da Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos; cruzando o estreito das Colunas de Hércules e chegado, por fim, à Península Ibérica. Táriq teria mandado gravar, em moedas comemorativas do feito, uma linha sinuosa, em forma de "S", representando o longo e tortuoso caminho percorrido para alcançar o continente europeu. Cortando essa linha sinuosa mandou colocar, no sentido vertical, duas colunas paralelas, representando as Colunas de Hércules, significando a força, poder e a perseverança da empreitada. O símbolo, assim gravado nas moedas, se difundiu e passou a ser reconhecido com o passar dos anos, em todo o mundo, como cifrão, representação gráfica do dinheiro.

terça-feira, 22 de abril de 2008

ESPARTA

Esparta
Σπάρτη

Território de Esparta.
Esparta (em grego Σπάρτη, transl. em grego moderno Spárti, em grego antigo, Spártē) é uma município da Grécia, situada nas margens do rio Eurotas, no sudeste da região do Peloponeso. Foi uma das mais notórias cidades-estado da Grécia Antiga; conquistou a vizinha Messénia cerca do ano 700 a.C. e, duzentos anos mais tarde, coligou-se a seus outros vizinhos, formando a Liga do Peloponeso. Na Guerra do Peloponeso, no século V a.C., Esparta derrotou Atenas e passou virtualmente a governar toda a Grécia, mas em 371 a.C. os outros estados revoltaram-se e Esparta foi derrubada, apesar de manter-se poderosa ainda durante mais duzentos anos.
Esparta encontra-se numa região de terras apropriadas para o cultivo da vinha e da oliveira. Na Antiguidade era uma cidade de caráter militarista e oligárquico, nunca tendo desenvolvido uma área urbana importante. O governo de Esparta tinha como um de seus principais objetivos fazer de seus cidadãos modelos de soldados, bem treinados fisicamente, corajosos e obedientes às leis e às autoridades. Em Esparta os homens eram na sua maioria soldados e foram responsáveis pelo avanço das técnicas militares, melhorando e desenvolvendo um treino, organização e disciplina intensivos e nunca vistos até então.
Relativamente ao poder, Atenas era a principal rival de Esparta e foi ela que liderou as cidades-estado gregas na luta contra os invasores persas, em 480 a.C.. A Constituição de Esparta, segundo a tradição, foi escrita por um legislador chamado Licurgo, que teria vivido no século IX a.C..
Índice[esconder]
1 História
2 A educação em Esparta
2.1 Desde o nascimento até à morte
2.2 A educação dos homens
2.3 A educação das mulheres
3 Sociedade
3.1 Esparciatas
3.2 Periecos
3.3 Hilotas
4 Instituições políticas
4.1 A Assembléia
4.2 Os Reis
4.3 A Gerúsia
4.4 A Apela
4.5 Os Éforos
5 Religião em Esparta
5.1 Divindades
5.2 Sacrifícios e sinais divinos
6 Soberanos clássicos
7 Referências
8 Bibliografia
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[editar] História
Esparta surgiu em meados do século IX a.C. Durante a época micénica existiram a sul do local onde nasceria Esparta dois centros urbanos, Amiclas e Terapne. Nesta última cidade encontraram-se santuários dedicados ao rei Menelau e à sua esposa Helena, personagens da Ilíada de Homero.
À semelhança de outras partes da Grécia, a Lacónia conheceu um decréscimo populacional com o fim da era micénica. No século X a.C. os Dórios penetraram na região. No século seguinte, quatro aldeias da Lacónia uniram-se para fundar Esparta; no século seguinte a cidade de Amiclas foi incluída em Esparta.
Perante o problema gerado pelo aumento populacional e pela escassez de terra, Esparta optou pela via militar para solucionar a questão, ao contrário de outras pólis gregas que recorreram à fundação de colónias (Esparta fundou apenas uma colónia, Tarento, actual Taranto, no sul da Itália). Assim, Esparta decidiu conquistar os territórios vizinhos, tendo conquistado toda planície da Lacónia no final do século VIII a.C. Na luta pelo domínio no Peloponeso, Esparta teve como rival Argos, cidade do nordeste do Peloponeso.
Em 570 a.C., uma tentativa de conquista da Arcádia revelou-se um fracasso, tendo Esparta optado por alterar a sua política no sentido da diplomacia. Assim, Esparta ofereceu a outras localidades do Peloponeso a possibilidade de integrar uma liga por si liderada, a chamada Liga do Peloponeso. A maioria dos estados do Peloponeso integraria esta liga, com excepção de Argos.
Durante as Guerras Persas, Esparta liderou as forças que defenderam a Grécia em terra, enquanto que Atenas defendia pelo mar. Com o final da guerra, as relações com Atenas deterioraram-se, culminando na Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.), que os Espartanos venceram.
Em 1834, o governo do então reino da Grécia fundou a moderna cidade de Esparta, que ocupa parte da antiga Esparta e que é capital do departamento da Lacónia.
Esparta
Sociedade
Esparciatas
Periecos
Hilotas
Política
Diarquia
Gerúsia
Apela
Eforato

[editar] A educação em Esparta

Estátua em mármore de um hoplita, talvez o rei Leónidas.
A educação espartana, que recebia o nome técnico de agogê, apresentava as particularidades de estar concentrada nas mãos do Estado e de ser uma responsabilidade obrigatória do governo. Estava orientada para a intervenção na guerra e a manutenção da segurança da cidade, sendo particularmente valorizada a preparação física que visava fazer dos jovens bons soldados e incutir um sentimento patriótico. Nesse treinamento educacional eram muito importantes os treinamentos físicos, como salto, corrida, natação, lançamento de disco e dardo.
[editar] Desde o nascimento até à morte
De acordo com Plutarco (50-120 d.C.), quando nascia uma criança espartana, pendurava-se na porta da casa um ramo de oliveira (se fosse um menino) ou uma fita de (se nascesse uma menina). Havia rituais privados de purificação e reconhecimento da criança pelo pai, além de uma festa de nascimento conhecida como genetlia, na qual o recém-nascido recebia um nome e presentes de parentes e amigos. (Cf. Maria Beatriz B. Florenzano. Nascer, viver e morrer na Grécia antiga)
Desde o nascimento e até à morte, o espartano pertencia ao estado. Os recém-nascidos eram examinados por um conselho de anciãos que ordenava eliminar os que fossem portadores de deficiência física ou mental ou não fossem suficientemente robustos (uma forma de eugenia).
A partir dos 7 anos, os pais (cidadãos) não mais comandavam a educação dos filhos. As crianças eram entregues à orientação do Estado, que tinha professores especializados para esse fim. Os jovens viviam em pequenos grupos, levando vidas muito austeras, realizavam exercícios de treino com armas e aprendiam a táctica de formação.
A educação espartana, supervisionada por um magistrado especial, o paidónomo, compreendia três ciclos, distribuídos por três anos:
Dos sete aos onze anos;
Dos doze aos quinze anos;
Dos dezesseis aos vinte anos (a efebia).
Vejamos alguns dos métodos da educação espartana, tendo como base o relato dos historiadores gregos Xenofonte (A constituição dos lacedemônios) e Plutarco (A vida de Licurgo).
Em lugar de proteger os pés com calçados, as crianças eram obrigadas a andar descalças, a fim de aumentar a resistência dos pés. Usavam um só tipo de roupa o ano inteiro, para que aprendessem a suportar as oscilações do frio e do calor.
A alimentação era bem controlada. Se algum jovem sentisse fome em demasia, era permitido que furtasse para conseguir alimentos. Castigavam-se, entretanto, aqueles que fossem apanhados roubando.
Uma vez por ano, os meninos eram chicoteados em público, diante do altar de Ártemis (deusa grega vingativa, a quem se ofereciam muitos sacrifícios). Essa cerimônia constituía uma espécie de concurso público de resistência à dor física.
Na adolescência, os jovens eram encarregados dos serviços de segurança na cidade. Qualquer cidadão adulto podia vigiá-los e puni-los. O respeito aos mais velhos era regra básica. Às refeições, por exemplo, os jovens deviam ficar calados, só respondendo de forma breve às perguntas que lhes fossem feitas pelos adultos.
Com 7 anos, o jovem espartano entrava no exército. Mas só aos 30 anos de idade adquiria plenos direitos políticos, podendo, então, participar da Assembléia do Povo ou dos Cidadãos (Apelá).
Depois de concluído o período de formação educativa, os cidadãos de Esparta, entre os vinte e os sessenta anos, estavam obrigados a participar na guerra. Continuavam a viver em grupos e deviam tomar uma refeição diária nos chamados syssitia.
Para o historiador italiano Franco Cambi, a educação desenvolvida em Esparta e Atenas constitui dois modelos educativos diferentes. Em Esparta, a perspectiva militar orientava a formação de cidadãos-guerreiros, defensores do Estado. Já em Atenas, predominava um tipo de formação mais livre e aberta, que, de modo mais amplo, valorizava o indivíduo e suas capacidades. (Cf. Franco Cambi. História da pedagogia.)

[editar] A educação dos homens
Os homens espartanos (esparciatas) eram mandados ao exército aos sete anos de idade, onde recebiam educação e aprendiam as artes da guerra e desporto. Aos doze anos, eram abandonados em penhascos sozinhos (só contavam uns com os outros), nus (para criarem resistência ao frio) e sem comida (para caçarem e pescarem). Aos 18 anos, voltavam a Esparta, e até os 30 anos de idade eram considerados cidadãos de segunda classe, sem direito a voto, por exemplo. Podiam ser agredidos por qualquer esparciata acima de 30 anos, ficavam nus e recebiam pouca comida (para aprenderem a furtar)[2] [3]. Os jovens poderiam atacar a qualquer momento escravos (hilotas), a fim de lutar e se preparar para a guerra, mas, se fossem mortos por ele, o escravo receberia dois dias de folga (por conseguir matar alguém que não era bom o bastante para o exército espartano). Existia uma temporada de caça aos hilotas, para treinarem os jovens para a guerra.
O homem que conseguisse viver até os 30 anos tornava-se um oficial, voltando ao quartel com todos os direitos de cidadão espartano, além de direito ao voto, direito a ter relações sexuais com mulheres (antes dos 30 só eram autorizadas com homens) e direito a casar. Os homens engravidavam suas mulheres e casavam-se com elas; caso não conseguissem engravidá-las, devolviam-na à sua família e voltavam ao quartel para fazerem parte da tropa de elite do exército. Podiam, assim, "casar" com um homem do exército. Contudo, se conseguissem engravidar suas mulheres, casavam-se com elas e voltavam ao quartel depois de deixá-las grávidas em suas casas. Aos 60 anos, poderiam ir para a casa de suas esposas para viver com elas.

[editar] A educação das mulheres
As mulheres recebiam educação quase igual à dos homens, participando dos torneios e atividades desportivas. O objetivo era dotá-las de um corpo forte e saudável para gerar filhos sadios e vigorosos. Consistia na prática do exercício físico ao ar livre, com a música e a dança relegadas para um segundo plano (ao contrário do que tinha sucedido na Época Arcaica). Assim como os homens, também iam aos quartéis quando completavam 7 anos de idade para serem educadas e treinadas para a guerra mas dormiam em casa, onde recebiam da mãe aulas de educação sexual, assim que atingiam a chamada menarca (primeira menstruação), começavam a receber aulas práticas de sexo, para gerarem bons cidadãos para o estado, aulas onde se usavam escravos, com coito interrompido para não engravidarem de hilotas (escravos) e recebiam também uma educação mais avançada que a dos homens já que seriam elas que trabalhariam e cuidariam da casa enquanto seus maridos estivessem servindo ao exército.
Assim que atingiam a maturidade(entre 19 e 20 anos) elas pediam a autorização ao estado para casarem, passando por um teste para comprovar sua fertilidade (engravidavam de um escravo que era só para a reprodução, sendo muito bem tratado e alimentado e morto aos 30 anos, pois era considerado velho. o filho que ela tinha com esse escravo era morto e a mulher conseguia sua autorização para casar), caso elas não conseguissem engravidar, era mandada aos quartéis para, assim como os homens, servir ao exército espartano.
A mulher espartana podia ter qualquer homem que quisesse, mesmo sendo casada, já que seus maridos ficavam até os 60 anos de idade servindo ao exército nos quartéis, e podia também requisitar o seu marido ao general do quartel, mas o mesmo não poderia ser feito pelos homens.
Muitos filhos era sinal de vitalidade e força em Esparta, assim, quanto mais filhos a mulher tivesse, mais atraente ela seria, podendo engravidar de qualquer esparciata, mas o filho desta seria considerado filho do seu marido.

[editar] Sociedade

Ruínas de Esparta.
A sociedade espartana era fortemente estratificada, sem qualquer possibilidade de mobilidade entre os três grupos existentes: os Esparciatas, os Periecos e os Hilotas.
[editar] Esparciatas
Ver artigo principal: Esparciatas
Pertenciam a este grupo todos os que fossem filhos de pai e mãe espartanos, sendo os únicos que possuíam direitos políticos (governo da cidade), constituindo o corpo dos cidadãos (homoioi, pares). Deviam dedicar sua vida ao estado espartano, permanecendo à disposição do exército ou dos negócios públicos. Além disso, para se pertencer a este grupo era obrigatório ter recebido a educação espartana e estar inscrito num syssition, onde tomavam a refeição em comum.
Segundo Políbio e Plutarco, todos os cidadãos de Esparta receberam uma parte igual das terras públicas. A terra teria sido dividida em parcelas, os klêroi, no mesmo número dos cidadãos existentes. Estas parcelas de terras eram inalienáveis e indivisíveis, passando de pais para filhos. As mulheres podiam herdar o klêros, mas só no caso de não ter existido descendência masculina e com o objectivo de o transmitirem. Os espartanos não podiam exercer o comércio.

[editar] Periecos
Ver artigo principal: Periecos
Eram os habitantes das cidades da periferia (que descendiam dos povos conquistados pelos esparciatas) que estavam integrados no estado espartano e ao qual pagavam impostos. Apesar de serem livres, não tinham direitos políticos e dependiam dos Espartanos em matéria de política externa. Estavam obrigados a participarem das guerras, mesmo não tendo recebido a mesma educação dos esparciatas. Eles combatiam ao lado dos Espartanos, embora em contingentes particulares. Ao contrário dos Espartanos, os periecos podiam dedicar-se ao comércio e à indústria artesanal.

[editar] Hilotas
Ver artigo principal: Hilotas
Eram os servos, que pertencendo ao estado espartano, trabalhavam nos kleros(lotes de terra), entregando metade das colheitas ao Espartano e eram duramente explorados. Deviam cultivar essa terra a vida inteira e não podiam ser expulsos de seu lugar. Levavam uma vida muito dura, sujeita a humilhações constantes. Foram protagonistas de várias revoltas contra o estado espartano. Para controlar as revoltas e manter os hilotas sob clima de terror, os espartanos organizavam expedições anuais de extermínio (krypteia ou criptias), onde os hilotas eram obrigados a participar. Tratava-se de um massacre anual que consistia na perseguição e morte dos hilotas considerados perigosos, no qual os espartanos competiam para ver quem matava mais hilotas.
Analisando a situação dos espartanos, periecos e hilotas, alguns historiadores afirmam que os periecos, por dominar o comércio e o artesanato, podiam enriquecer, desfrutando de certo conforto material e liberdade. Os esparciatas, por sua vez, cumpriam obrigações tão pesadas em relação ao Estado que se tornaram vítimas de suas próprias instituições. Quanto aos hilotas, sua vida era marcada pela opressão e miséria.

[editar] Instituições políticas

[editar] A Assembléia
A Assembléia de Esparta era composta por todos os Espartanos, menos hilotas (pois eram escravos), e recebia o nome de Apella. Reunia-se uma vez por mês ao ar livre, em local que a arqueologia moderna ainda não conseguiu identificar.
Decidia sobre questões ligadas à política externa, elegia os magistrados e designava os gerontes. Porém, na prática, tinha pouca influência na vida política da pólis. Segundo as informações legadas por Plutarco, não podia discutir as propostas que lhe eram apresentadas, mas apenas aprová-las ou rejeitá-las na totalidade.

[editar] Os Reis
Os reis eram dois, oriundos das duas famílias reais que se afirmavam descendentes de Hércules, segundo a tradição, dos gêmeos Eurístenes e Procles, cujos filhos, Ágis e Eurípone, teriam dado nome às dinastias reinantes: àgidas e euripôntidas. Entre suas funções, destacavam-se os serviços de caráter militar e religioso. Em tempo de guerra, um dos reis exercia o comando dos exércitos. Eram membros da Gerúsia e gozavam de certos privilégios, como o direito a uma guarda pessoal, direito a refeição dupla no syssition e a terem uma parte superior aos outros no despojo de guerra.

[editar] A Gerúsia
A Gerúsia preparava as propostas que seriam apresentadas à Assembléia, funcionando também como tribunal supremo.
Era constituída por trinta elementos (vinte e oito gerontes eleitos vitaliciamente, de entre os Espartanos com mais de sessenta anos, e os dois reis) eleitos através de um procedimento que Aristóteles classifica de pueril na sua obra Política: os candidatos passavam diante da Assembléia, sendo eleito o que recebesse maior número de aplausos, avaliados por um júri encerrado num compartimento próximo.
Tinha funções administrativa (supervisão), legislativa (elaboração de projetos de lei) e judiciária (tribunal superior).

[editar] A Apela
Assembléia formada por cidadãos espartanos maiores de 30 anos. Elegia os membros da Gerúsia e aprovava ou rejeitava as leis encaminhadas por eles.

[editar] Os Éforos
O Conselho dos Éforos - em número de cinco - formavam um colégio que era eleito anualmente por altura do Outono pela Ápela. Detinham amplos poderes, eram os verdadeiros chefes do governo espartano: presidiam a Assembléia (coordenavam as reuniões da Gerúsia e da Ápela), davam a ordem de mobilização em caso de guerra, controlavam a administração (a vida econômica e social da cidade) e a educação, podendo vetar os projetos de lei e fiscalizar as atividades dos reis.
Possuíam também poderes judiciais, podendo banir os estrangeiros e condenar os periecos à morte, sem necessidade de julgamento.
Não era exigida nenhuma condição de censo ou de nascimento para se ser eleito éforo, pelo que o eforato representava o elemento de igualitarismo nas instituições políticas espartanas. A curta duração do seu mandato impedia eventuais abusos de poder.

[editar] Religião em Esparta
A religião ocupou em Esparta um lugar mais importante do que em outras cidades. O grande número de templos e santuários é disso revelador: quarenta e três templos dedicados a divindades, vinte e dois templos de heróis, uma quinzena de estátuas de deuses e quatro altares. A esta lista é necessário juntar os numerosos monumentos funerários, dado que em Esparta os mortos eram enterrados no interior das muralhas, sendo que alguns destes monumentos funcionaram como locais de culto.

[editar] Divindades
As divindades femininas desempenharam em Esparta um papel bastante importante: dos cinquenta templos mencionados por Pausânias, trinta e quatro estão dedicados a deusas. A deusa Atena era a mais adorada de todas. O deus Apolo tinha poucos templos, mas a sua importância era crucial: desempenhava um papel em todas as festas espartanas e o monumento mais importante na Lacónia era o trono de Apolo em Amyclai.
Outro traço distintivo era o culto aos heróis da guerra de Tróia. Segundo Anaxágoras, Aquiles era aqui adorado como um deus e Esparta tinha dois santuários dedicados a ele. Outras personagens de Tróia honradas por Esparta foram Agamemnon, Cassandra, Clitemnestra, Menelau e Helena.
Esparta prestava também culto a Castor e Pólux. A tradição afirmava mesmo que teriam nascido na cidade. A dualidade das personagens faz lembrar a existência de dois reis em Esparta. Vários milagres foram-lhes atribuídos, sobretudo relacionados com a defesa dos exércitos espartanos (representações dos gémeos em ânforas eram levadas para o campo de batalha ao lado dos reis).
Por último, Héracles era, em Esparta, uma espécie de "herói nacional". Segundo a tradição, o herói teria ajudado Tíndaro a reconquistar o seu trono. O tema dos ""Doze Trabalhos" foi largamente explorado pela iconografia espartana.

[editar] Sacrifícios e sinais divinos
Como consequência do exposto, os sacerdotes desempenhavam um papel importante em Esparta. Os dois reis tinham eles próprios um estatuto de sacerdotes: estavam encarregues de realizar os sacrifícios públicos, que eram bastante valorizados, sobretudo em tempos de guerra. Antes da partida de uma expedição militar, efetuava-se um sacrifício a Zeus; no momento em que se passavam as fronteiras realizava-se a Zeus e Atena e antes da batalha a Ares Enyalios. Várias anedotas mostram o respeito dos espartanos pelas festas e sinais divinos, ao ponto de abandonarem o campo de batalha perante augúrios desfavoráveis, como os terremotos.

Clássicos - Nicolau Maquiavel - O Príncipe

Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi escritor, diplomata, e pensador político, nascido e falecido em Florença. De origem relativamente modesta, conseguiu fazer carreira pública, após a expulsão dos Medici, em 1494.Executou missões junto a diversos Estados italianos, progredindo rapidamente na carreira. Embora nunca fosse nomeado oficialmente embaixador, dirigiu freqüentemente negociações de grande responsabilidade.
Foi particularmente importante a missão que desempenhou junto a César Bórgia, durante as conquistas deste na Romanha, em 1502.De regresso a Florença, desempenhou o cargo de segundo secretário, sob o governo de Soderini. Percebendo o perigo que representavam as tropas mercenárias, empregadas habitualmente por Florença e por outros Estados italianos, organizou, em 1506 e 1507, com a aprovação de Soderini, uma milícia nacional. Dois anos depois, a força por ele organizada com cidadãos florentinos participou do término vitorioso do assédio de Pisa, que Maquiavel supervisionou indiretamente. Todavia, quando os Medici ameaçaram os florentinos de dirigir contra a cidade tropas espanholas, a milícia foi dividida, sofrendo grave desastre em Prato, em 1512, e a entrega daquela posição defensiva acarretou a queda de Florença e a fuga de Soderini.
Preso por algum tempo em 1513 e torturado, Maquiavel recebeu depois ordem de se retirar para sua propriedade, perto de San Casciano, na Toscana. Devido a sua íntima conexão com o regime republicano deposto, não conseguiu recuperar sua preeminência política. Todavia, desempenhou por breves períodos alguns cargos menos importantes e recebeu dos Medici diversos favores, em reconhecimento por sua atividade literária, que se intensificou consideravelmente após a queda do governo republicano. Ocorrendo nova expulsão dos Medici, regressou a Florença, mas adoeceu gravemente, morrendo pouco depois.
Sobre a obra
Sua obra mais famosa, O Príncipe, escrita de 1513 a 1516, foi publicada postumamente, em 1532.A obra reflete seus conhecimentos da arte política dos antigos, bem como dos estadistas de seu tempo, e expressa claramente a mentalidade da época. Formulando uma série de conselhos ao príncipe, o autor expôs uma norma de ação autoritária, no interesse do Estado. Deste modo, Maquiavel ilustrou a política renascentista de constituição de Estados fortes, com a superação da fragmentação do poder, que caracterizara a idade média.
As obras de Maquiavel foram, a princípio, bem recebidas, mas durante o período agitado que se seguiu à Reforma incorreram no anátema de ambas as partes em luta. Em 1559, o pontífice incluiu-as no Índex. Por outro lado, denegridas sistematicamente, aquelas obras passaram a ser consideradas, nos países mais diversos, expressão do cinismo político, advindo daí o sentido pejorativo de termos como maquiavélico e maquiavelismo.
Análise de "O Príncipe"
O autor inicia com uma breve dedicatória do livro ao "Magnífico Lourenço de Médicis". Em seguida, começa a tratar de um assunto se estende por grande parte da obra: os principados. Vale ressaltar a definição de Estado segundo Maquiavel:"...todos os governos que tiveram e têm autoridade sobre os homens...e são ou repúblicas ou principados..."(cap. I).Em seguida, o autor propõe-se a examiná-los com profundidade, de acordo com suas características, inicialmente os hereditários e os mistos. Sobre estes, é interessante ressaltar de sua análise que estes são os menos tangíveis de dominação por parte de um usurpador qualquer e também os de maior capacidade de conservação de poder, devido a força existente no comando de um príncipe de uma linhagem de comando já tradicional. A respeito dos principados mistos, pode-se dizer que sejam um desdobramento, uma continuação, de um Estado já existente, "...Estados, que conquistados, são anexados a um Estado antigo..."(cap. III, número 3).Sobre estes, Maquiavel tem por ponto central a forma de controle, que pode ser fácil ou problemática. Nesse caso, aponta algumas soluções, tais como: eliminação da linhagem de nobres que os dominava e não alteração da organização de leis e impostos preexistente, instalação de colônias ou a mudança do novo dominador para o local conquistado. Mas deve ficar bem claro que o ponto central de apoio a um novo Estado dominante é que os povos dominados (e também seus vizinhos) o apoiem. Aliás, na questão das leis, o autor dedica um capítulo da obra para tratar apenas desse assunto, apontando a maneira com que se deve governar as cidades ou principados que, antes da conquista, tinham leis próprias. A partir daqui, o autor inicia a utilização de diversos exemplos para ilustrar as características que propõe a descrever a partir daqui. Neste caso dos principados mistos, um nome bastante comentado é o de Luís XII.
Maquiavel, a seguir, ilustra o porquê do reino de Dario, ocupado por Alexandre o Grande, não se revoltou contra seus sucessores após sua morte, contrastando este caso com territórios ocupados pela França. A grande explicação reside na forma de organização da monarquia: no reino de Dario, existe apenas uma figura central e de maior importância no poder, o príncipe, e todos os outros são servos; já nos reinos governados pela França, "...O rei...é posto em meio a uma multidão de senhores de linhagem antiga, reconhecidos e amados pelos súditos..."(cap. IV, no. 3), o que não cria uma figura central forte e, cujo poder, não possa ser contestado.
Retomando o assunto dos principados, este agora são diferenciados pela forma com que foram conquistados, contrastando "Os principados conquistados com as próprias armas e qualidades pessoais"(cap. VI) e "Os principados conquistados com as armas e virtudes de outrem"(cap. VII).No primeiro, cita os exemplos de Moisés, Teseu, entre outros, que por virtude própria tornaram-se príncipes. Já no segundo, o autor transcorre a respeito de César Borgia, filho do papa Alexandre VI, cujas conquistas foram impulsionadas pelo poder da posição de seu pai e, depois, por alianças com pessoas de punho mais firme que ele, como Remirro de Orco. Já em "Dos que conquistaram o principado com malvadez"(cap. VIII), é tratado o fato de se atingir o principado através de "...atos maus ou nefandos..."(no. 1).Vale destacar a forma que Maquiavel propõe da maneira como devem discorrer as injúrias ao povo, segundo ele "...todas de uma só vez, para que, durando pouco tempo, marquem menos..."(no. 8).Também é interessante a maneira com que os benefícios ao povo devem ser proporcionados:"...pouco a pouco, para serem melhor saboreados..."(no. 8).
Por fim, tem-se os principados civil e eclesiástico. O principado civil é aquele em que um cidadão comum torna-se príncipe de sua pátria pelo favor de compatrícios. Segundo Maquiavel, "...se chega a este principado graças ao favor do povo ou dos nobres"(cap. IX, no. 1).Partindo desse princípio, denota-se que, para a chegada do cidadão comum ao principado é necessário conquistar a simpatia de uma destas facções, que o levará a atingir seus objetivos. Já os principados eclesiásticos são mantidos pelas tradições da religião e tem uma força tão grande que mantém seu próprio príncipe no governo, independente da sua maneira de viver ou comportamento. O autor afirma que "...somente estes principados são seguros e felizes..."(cap. XI, no. 1) devido às condições que o domínio religioso oferece a estes príncipes, Estados e súditos: os príncipes detém o Estado, mas não o defendem, pois não há risco deste lhe ser tirado; e os súditos, mesmo não sendo governados, não se importam e nem pensam numa separação de seu príncipe. Entre as explicações destes principados, o autor discorre a respeito da forma "Como medir as forças de todos os principados", que trata basicamente de um assunto: a partir de que momento a força de um príncipe é tão grande a ponto de não precisar da ajuda de outros para se defender.
Depois da discussão a respeito dos principados, o autor entra em uma parte que pode ser considerada intermediária na obra. Discorre sobre as milícias e exércitos, os quais afirma serem as bases principais de sustentação do poder, ao lado de boas leis, e ambos têm uma forte ligação entre si. A respeito dos tipos de milícias, podem ser de quatro tipos: próprias, mercenárias, auxiliares ou mistas. As mercenárias e auxiliares são de nenhuma utilidade e transmitem grande perigo, devido ao vínculo praticamente ausente com os que defendem. Deve-se sempre fugir destas milícias pois a verdadeira vitória só é saboreada se conquistada com as próprias armas, sem levar em conta o prestígio alcançado entre os soldados e súditos desta maneira. Sobre os deveres do príncipe para com seus exércitos, Maquiavel afirma que a arte da guerra deve ser sempre exercitada, tanto com ações como mentalmente, para que o Estado esteja sempre preparado para uma emergência inesperada e, também, para que seus soldados o estimem e possam ser de confiança.
Depois da discussão das milícias, Maquiavel inicia a terceira e última parte de sua obra: a discussão sobre como devem ser as características da personalidade dos príncipes, inicialmente pelas quais são louvados ou vituperados. Da leitura do texto, se conclui que os príncipes não devem tentar reunir todas as qualidades consideradas boas, pois a sensibilidade humana não permite que sejam todas distintas e acrescentem muito a opinião dos súditos a seu respeito, mas se concentrar em absorver aquelas que lhe garantam a manutenção do Estado. Mas a questão a qual o autor mais se atém é que o príncipe deve evitar de todas as maneiras adquirir duas delas: o ódio e o desprezo de seus súditos.
Dentre as qualidades apontadas estão a generosidade, que deve se balanceada pela parcimônia, a economia. O príncipe deve ser generoso, mas não muito, pois pode-se adquirir má fama entre aqueles que não forem beneficiados por esta generosidade, além de atentar para o detalhe de que geralmente, quando alguém ganha, outros perdem, e isso pode gerar o ódio ao príncipe, o que deve ser evitado a qualquer custo. Tão antagônicas quanto as características apontadas acima estão a crueldade e a piedade. Aliás, as considerações a este respeito tornaram fizeram boa parte da fama de Maquiavel, com suas afirmações em relação a ser temido ou amado. Ele afirma que, na impossibilidade de reunir ambas características, ou de ter que renunciar a um deles, é melhor ser temido, pois trair a alguém a quem se teme é bem mais difícil do que a quem se ama. No entanto, ao passo que não se conquista o amor, deve-se evitar o ódio, respeitando os bens e as mulheres dos súditos. Um ponto de destaque é no que diz respeito a postura do príncipe para com seus exércitos: não deve se importar com a fama de cruel para com eles pois "...Sem esta fama, nunca se mantém um exército unido nem disposto a qualquer combate..."(cap. XVII, no. 4).Quanto a palavra do príncipe, afirma que este deve procurar mantê-la mas, quanto isto não for possível, deve-se usar artifícios para "...confundir a mente dos homens..."(cap. XVIII, no. 1) pois estes, "...No final, superaram os que sempre agiram com lealdade". Segundo Maquiavel, o "...príncipe prudente não pode, nem deve, manter a palavra dada, quando lhe for prejudicial"(cap. XVIII, no. 3).
O capítulo mais extenso da obra discute "Como evitar o desprezo e o ódio". O ódio surge quando se perdem bens e honra, pois assim os súditos passam a viver insatisfeitos. Já o desprezo surge quando o príncipe é considerado volúvel, superficial, efeminado, pusilânime, indeciso, características que ele deve evitar a qualquer custo. Em suas atitudes devem ser vistas boas qualidades como coragem, força e certeza, para que nunca tenha que voltar atrás em uma decisão.Com isso, o príncipe adquire boa reputação, e o surgimento de uma conspiração contra sua pessoa torna-se difícil pela admiração de seus súditos por ele. Refletindo sobre isso, também se faz necessário destacar a necessidade de se agradar tanto ao povo como aos nobres, como já foi dito anteriormente no assunto dos principados, porque conspirações podem surgir de qualquer um dos lados. E para isso, não são necessárias apenas boas ações, mas também as más, pois para agradar um grupo podem ser necessárias ações corruptas, negativas, benéficas partindo-se do princípio de agradar os súditos. E, para finalizar a discussão à respeito das características do príncipe, Maquiavel trata das atitudes que este deve proceder para ser admirado, entre eles grandes realizações e exemplos raros, além de grandes demonstrações de política interna e externa e de amizade ou inimizade verdadeiras.
Encerrada esta discussão, Maquiavel escreve mais diversas considerações, que poderiam ser considerados apêndices, a respeito de diversos assuntos que cercam o príncipe. Entre eles, estão considerações sobre a utilidade de fortalezas e outras coisas cotidianas, secretários, aduladores, influências da fortuna sobre os homens e à respeito da Itália. No que diz respeito às fortificações, deve construí-las e armar parte de seus súditos para sua própria segurança, caso tenha medo de seu povo, mas em caso contrário, deve abandoná-las. Sobre os secretários, são de difícil escolha. Os de melhor caráter são os que pensam sobretudo no príncipe, sem procurar útil para si próprio em todas as ações que comete. Aduladores:"...Os homens...com dificuldade, defendem-se desta peste..."(cap. XXIII, no. 1).Evita-se as adulações fazendo com que os homens compreendam que não se ofende ao príncipe se dizerem a verdade à respeito do que lhes for perguntado. No tocante da fortuna, se ela "...muda e os homens obstinam-se em suas atitudes, estes terão sucesso enquanto os dois elementos estiverem de acordo e, quando discordarem, eles fracassarão..."(cap. XXV, no. 9).Maquiavel, sobre a Itália, escreve dois capítulos de sua obra: "Porque os príncipes da Itália perderam seus Estados" e "Exortação para retomar a Itália e libertá-la dos bárbaros", que expõem motivos e soluções para questões de sua pátria, a partir de tudo que discutiu-se no livro.

sábado, 22 de março de 2008

Fausto - Goethe

FAUSTO

Fausto é o protagonista de uma popular lenda alemã de um pacto com o demônio, baseada no médico, mágico e alquimista alemão Dr. Johannes Georg Faust (1480-1540). O nome Fausto tem sido usado como base de diversos romances de ficção, o mais famoso deles do autor Goethe, produzido em duas partes, tendo sido escrito e reescrito ao longo de quase sessenta anos. A primeira parte - mais famosa - foi publicada em 1806 e a segunda, em 1832 - às vésperas da morte do autor.

Considerado símbolo cultural da modernidade, Fausto é um poema de proporções épicas que relata a tragédia do Dr. Fausto, homem das ciências que, desiludido com o conhecimento de seu tempo, faz um pacto com o demônio Mefistófeles, que lhe enche com a energia satânica insufladora da paixão pela técnica e pelo progresso.

Mefistófeles deriva do grego e significa aquele que odeia a luz. Desde a Idade Média, a palavra se refere a uma das muitas entidades demoníacas. Porém, a figura de Mefistófeles tem sido mais conhecida como importante personagem na obra Fausto de Goethe.


Índice

O Fausto Histórico

Johannes Georg Faust, o homem, nasceu no ano de 1480 em Knittlingen, na região de Württemberg, Alemanha. Segundo o teólogo protestante Philipp Melanchthon (1497-1560), quase conterrâneo seu e que ele tratou não muito amigavelmente em Wittenberg, entre 1525 e 1532, Fausto teria estudado em Cracóvia, onde a magia era então matéria curricular. Consta que ele fez uma conferência em Worms, em 1539, e que "muitas pessoas se deixaram iludir". Também é fato que muitas famílias de destaque o acolhiam e algumas lhe confiavam a educação dos filhos. Quando ele morreu em 1540, em Staufen im Breisgau, não faltou quem jurasse ter sido por obra do diabo, que lhe viera esganar. O próprio Melanchton admitiu a hipótese de tratar-se de morte sobrenatural.

O Fausto Apócrifo

Em 1507 foi nomeado mestre-escola em Kreuznach "um homem muito douto e místico", chamado Georgius Sabellicus Faust Junior, que, conforme uma carta achada na abadia de Sponheim, "abusou dos alunos e fugiu". Em 15 de janeiro de 1509 colou grau de bacharel em teologia, na universidade de Heidelberg, um certo Johannes Faust. Conrad Mutianus Rufus, da paróquia de St. Marien em Gota, conta que um tal Georg Faust blasfemava soberbamente em Erfurt, em setembro de 1513. O bispo de Bamberg declarou ter pago a um Faust, em 10 de fevereiro de 1520, dez moedas de ouro, para que ele lhe lesse o horóscopo. Documentos rezam que um doutor Georg Faust foi banido de Ingolstadt, em 15 de junho de 1528, como charlatão. Um doutor Faust teve negado salvo-conduto, em Nuremberg, a 10 de maio de 1532. Em Münster o doutor Faust, em 25 de junho de 1535, predisse a capitulação da cidade pelo bispo, como depois aconteceu. Em pouco tempo outros mitos e lendas que envolviam personagens como Simão Mago, Cipriano e Teófilo, episódios bíblicos e medievais, burlas e fábulas começaram a compor uma tão considerável tradição oral e apócrifa acerca desse Fausto, que ele acabou por tornar-se figura literária.

O Fausto Literário

No intuito de compilar tudo quanto se acreditava e dizia acerca de Fausto, Johann Spiess, livreiro e escritor de Frankfurt, compôs no ano de 1587 a primeira narrativa literária dessa personagem. Era um volume de 227 páginas, intitulado como a Historia von dr. Johann Fausten, cujo enredo contava como ele se vendeu ao diabo a prazo estipulado, as extraordinárias aventuras que viveu nesse ínterim, a magia que praticava, e por fim sua morte e danação. Tudo isso publicado para servir de advertência sincera contra os que levavam a curiosidade intelectual além do limite estabelecido pelas igrejas. Muitos críticos e estudiosos avaliam esse primeiro romance faustiano, ou Faustbuch, como mera propaganda luterana para doutrinação e proselitismo. Controvérsias à parte, outros escritores perceberam que a personagem poderia servir a temas mais profundos e complexos. Com efeito, Fausto tornou-se figura recorrente ao longo de cinco séculos de literatura ocidental. Dois anos depois da publicação de Spiess, ou seja em 1589, o escritor e dramaturgo inglês Christopher Marlowe (1563-1593) transforma Fausto em peça teatral, onde sutilmente retrata o dilema do novo homem ocidental, então dividido entre a religiosidade medieval e o humanismo renascentista. Quase dois séculos depois, no ano de 1760, foi a vez do escritor alemão Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781) criar uma nova versão dramática do Fausto, na qual ele encarnaria o heroísmo do intelecto humano, capaz por si mesmo de triunfar sobre o mal, personificado no diabo. A obra de Lessing, porém, hoje encontra-se fragmentada. Não obstante, Fausto se tornaria um das persongens preferidas do período romântico, que vai de meados do século XVIII ao século XIX, a notória época do Sturm und Drang. A personagem apareceria em muitas obras do romantismo alemão como o Fausts Leben (A Vida de Fausto, 1778), escrita por Maler Müller, e o Fausts Leben, Taten und Höllenfahrt (Vida, feitos e danação de Fausto, 1791) escrita por F. M. Klinger. Além destes, Nikolaus Lenau também fez uma versão romântica do Faust. Mas seria através do poeta Johann Wolfgang von Goethe que Fausto alcançaria a sua máxima expressão. A tragédia de Fausto, como dito anteriormente, foi a obra de toda a vida de Goethe. A primeira versão foi composta em 1775, mas era apenas um esborço intitulado Urfaust (Proto-Fausto, ou Fausto zero) que só foi publicado mais de cem anos depois, em 1887, quando o autor já havia morrido. Doze anos após a composição do Urfaust, houve ainda outro esborço, feito em 1791, que era intitulado Faust, ein Fragment (Fausto, um fragmento), e também não chegou a ser publicado. A versão definitiva, só seria escrita e publicada por Goethe no ano de 1808, sob o título de Faust, eine Tragödie (Fausto, uma tragédia), e assim trazia à lume sua maior obra prima. Mas a problemática humana do Fausto continuou a intrigar o poeta, e em 1826 ele começou a escrever a segunda parte do poema, publicado postumamente sob o título de Faust. Der Tragödie zweiter Teil in fünf Akten (Fausto. Segunda parte da tragédia, em cinco atos).

O Enredo

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Ilustração da 2ª parte do Fausto, por Retzsch
Ilustração da 2ª parte do Fausto, por Retzsch

No afã de superar os conhecimentos de sua época, evoca Fausto espíritos e, por fim, Mefistófeles, o demônio (palavra que significaria, etimologicamente, inimigo da luz) - com o qual negocia viver por vinte e quatro anos sem envelhecer.

Durante este tempo, conforme o contrato assinado com seu próprio sangue, serviria o diabo a Fausto, em troca da sua alma. Entregue aos prazeres durante este tempo, é finalmente ao termo deles levado para o Inferno.

Tendo, porém, encontrado o amor de Margarida, dela tenta obter a salvação, mas foi inevitável o destino a que se comprometera.

O Fausto Pós-moderno

Sendo um arquétipo da alma humana, o mito de Fausto jamais esgotou-se simbólica e literariamente, de modo que diversos artistas contemporâneos e posteriores a Goethe reagiram criativamente à personagem. O poeta russo Puchkin escreveu em 1826 um Faust notável pelo diálogo com Mefistófeles. Christian Dietrich Grabbe também compôs em 1836 uma tragédia onde confrontava Don Juan und Faust(Don Juan e Fausto). No século XX, o poeta francês Paul Valéry escreveu a peça Mon Faust (Meu Fausto), sem todavia a concluir. Depois foi a vez do magnífico poeta português Fernando Pessoa escrever Fausto: Uma Tragédia Subjectiva, inusitadamente narrado na primeira pessoa. E por fim, Thomas Mann publicou seu grande romance Doktor Faustus em 1947. Fausto também foi tema para as peças musicais de vários compositores clássicos como Wagner (Faust), Berlioz (La Damnation de Faust), Schumann (Szenen aus Goethes Faust), Liszt (Faust-Symphonie) e Gounod (Faust).



Fonte: Wikipedia

Dom Quixote, O Melhor Livro do Mundo...!

Em princípios de maio de 2002, uma impressionante comissão de críticos literários de várias partes do mundo escolheu o livro Dom Quixote de La Mancha, escrito por Miguel de Cervantes y Saavedra (1547-1616), a partir de 1602, como a melhor obra de ficção de todos os tempos. Ao tempo em que narrava os feitos do Cavaleiro da Triste Figura em ritmo dos romances da cavalaria, Cervantes enervado com o sucesso daquele tipo de gênero literário junto ao grande público, realizou uma das maiores sátiras aos preceitos que regiam as histórias fantasiosas daqueles heróis de fancaria.

Agonia do cavaleiro da triste figura

O Cavaleiro da Triste Figura e Rocinante
"Todas as coisas humanas têm dois aspectos... para dizer a verdade todo este mundo não é senão uma sombra e uma aparência; mas esta grande e interminável comédia não pode representar-se de um outro modo. Tudo na vida é tão obscuro, tão diverso, tão oposto, que não podemos nos assegurar de nenhuma verdade."
Erasmo – Elogio da Loucura, 1509

No final de uma caçada às lebres, ele sentiu-se exausto. Pediu que o levassem ao leito. Dom Quixote percebeu a presença da morte. Logo os amigos chamaram um médico que, pegando-lhe o pulso, recomendou com a rude franqueza dos castelhanos que tratasse de salvar a alma, porque o corpo era de pouca valia. Então algo poderoso ocorreu. Aos brados o moribundo disse ter recuperado o juízo, livrara-se das desgraçadas leituras que fizera sobre os feitos dos cavaleiros. Disse abominar Amadis de Gaula, o espadachim de fantasia que tanto o inspirara até não muito. Esperou então, sereno, a morte para livrar-se daquelas assombrações da literatura que tanto infernizaram a sua vida.
Em tempos bem anteriores, ainda que magro de doer, dispunha de saúde suficiente para lançar-se pelo mundo afora. Até os cinqüenta anos vivera com criada, sobrinha e um rapaz arrieiro, numa fazendola na província da Mancha, uma espécie de brejo-seco do Reino de Castela, na Espanha. Desocupado, empobrecido, passara os dias lendo os feitos dos heróis da cavalaria. Até que um dia, conta Cervantes, de tanta leitura, seus miolos ressecaram. Imitando então aquela brava gente que povoava os seus sonhos, cismou em querer consertar as coisa tortas e desfazer os agravos do mundo. Mandou pôr uma sela em Rocinante, seu maltratado pangaré, calçou-se com as velhas armas dos seus antepassados, um escudo, e saiu a trote atrás de façanhas que lhe dessem renome. E como ele próprio esperava:

—Dichosa edad y siglo dichoso aquel adonde saldrán a luz las famosas hazañas mías, dignas de entallarse en bronces, esculpirse en mármoles y pintarse en tablas, para memoria en lo futuro.
(Feliz idade e feliz século aquele onde sairão à luz as minhas famosas façanhas, dignas de entalhar-se em bronzes, esculpidas em mármores e pintadas em telas para a memória do futuro)
(D.Quixote: II Capítulo)

Metido em aventuras mil

Campo de Criptana com seus moinhos, a quem Quixote enfrentou com sua lança
Aventuras e desassossegos de toda a ordem é o que não lhe faltaram pelas andanças pelo ermos de Castela. Além de fantasiar uma dama só sua, uma pobre camponesa que ele chamou de Dulcinéia del Tomboso, teve a felicidade de encontrar um homem da sua aldeia, o gorducho Sancho Pança, um lavrador, logo promovido a escudeiro, e que, entre outras coisas, tentou inutilmente inculcar em Dom Quixote algum princípio de realidade que fosse. Sim, porque o nosso cavaleiro vivia oscilando em perpetrar as loucuras desaforadas de Roldão ou mergulhar nas melancolias de Amadis, seus modelos. De longe ou de perto, o contraste espantoso entre o Cavaleiro da Triste Figura, como Dom Quixote mesmo se chamou, magro e alto, e o seu valet, o pequenino e roliço Sancho, montando em seu burrico, incendiou a imaginação de todos.
Maldizia o tempo todo a época que lhe coubera viver. A pólvora e o chumbo, discursou ele, liquidaram com os cavaleiros. Um disparo de longe, arte de um covarde, destroçava a vida de um bravo. Surras “ da fementida canalha”, também não lhe faltaram. Certa vez, em pleno campo, encontrando uma fila de bandidos atados, conduzidos por alguns policiais, resolveu espantar a lei. Engalfinhou-se com os guardas que fugiram espavoridos dos espadaços daquele doido. Soltos, os foras-da-lei, além de surripiarem-lhe os pertences, aplicaram-lhe uma sova de dar dó. Comentário de Dom Quixote: “aos cavaleiros andantes não pertence averiguar se os afligidos, acorrentados e opressos...vão pelas estradas por suas culpas, ou por serem desgraçados... só lhe cabia ajudá-los como necessitados”. Nem na dor das imerecidas porretadas ele se emendava!

Estrutura e prosa da obra

As confusões de Don Quixote (gravura de William Hogarth)
Dom Quixote de La Mancha, a maravilha literária de Cervantes, narrado na mais fina prosa castelhana, é composta de 126 capítulos de sabedoria, amizade, enternecimento, encantamentos, loucuras e divertimento, divididos em duas partes: a primeira surgida em 1605 e a outra em 1615. Monumento que Cervantes começou a erguer com pena e tinta, "no silêncio do esquecimento", encarcerado em Sevilha, em 1602, por mesquinharias. Obra que mais de 100 críticos literários, vindos de todas as partes, recentemente reunidos, indicaram como o melhor livro do mundo.
Numa das suas digressões, Cevantes deu para comparar a vida de soldado, que ele foi, com a de escritor, que ele terminou sendo, concluindo que aquele ofício só lhe dera dor de cabeça, vigílias, vazios de fome e padecimentos mil. Todavia, ao contrário de Shakespeare, seu contemporâneo, era consciente de que criara uma obra-prima, algo verdadeiramente extraordinário. Enquanto isso, numa desconhecida aldeia da Mancha, o corpo do velho fidalgo maluco recebia as exéquias. Não se enganem, não o enterraram não. Basta a qualquer leitor abrir a primeira página do Dom Quixote para ver que, erguendo a espada, o soberbo doido está ali vivíssimo, pronto para sair a assombrar o gigante Briareu e pôr a correr as injustiças.

de La Mancha (Don Quijote de la Mancha em castelhano, e com ortografia e título original (1605), El ingenioso hidalgo Don Quixote de la Mancha), é um livro escrito por Miguel de Cervantes y Saavedra (1547-1616). É composto por 126 capítulos de sabedoria, amizade, enternecimento, encantamentos, loucuras e divertimento, divididos em duas partes: a primeira surgida em 1605 e a outra em 1615.

É a grande criação de Cervantes. Surgiu no fim de mais de um século de notável inovação e diversidade por parte dos escritores ficcionistas espanhóis. Ao escrevê-lo, Cervantes se propunha ridicularizar os livros de cavalaria, que gozavam de imensa popularidade na época. Nesta obra, a paródia apresenta uma forma invulgar. É um dos livros mais traduzidos da literatura universal.

Em princípios de maio de 2002, uma impressionante comissão de críticos literários de várias partes do mundo escolheu o livro Dom Quixote de La Mancha, escrito por Cervantes, a partir de 1602, como a melhor obra de ficção de todos os tempos. Ao tempo em que narrava os feitos do Cavaleiro da Triste Figura em ritmo dos romances da cavalaria, Cervantes enervado com o sucesso daquele tipo de gênero literário junto ao grande público, realizou uma das maiores sátiras aos preceitos que regiam as histórias fantasiosas daqueles heróis de fancaria.

Sinopse

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Rota percorrida por D. Quixote
Rota percorrida por D. Quixote

A ação principal do romance gira em torno das três incursões feitas pelo protagonista e por seu fiel amigo e companheiro, Sancho Pança, que tem um perfil mais realista, por terras de La Mancha, de Aragão e de Catalunha. O personagem principal da obra é um pequeno fidalgo castelhano que perdeu a razão pela leitura assídua dos romances de cavalaria e pretende imitar seus heróis prediletos. Envolve-se em uma série de aventuras, mas suas fantasias são sempre desmentidas pela dura realidade. O efeito é altamente humorístico.

O verdadeiro nome do pobre fidalgo é Alonso Quijano (Quixano), chamado pelos vizinhos de o Bom. Já de certa idade, entrega-se à leitura desses romances e sua loucura começa quando toma por realidades históricas indiscutíveis as façanhas dos personagens dos livros, as quais comenta com os amigos, o cura e o barbeiro do lugar. Quijano investe-se dos ideais cavalheirescos de amor, de paz e de justiça, e prepara-se para sair pelo mundo, em luta por tais valores e por viver o seu próprio romance de cavalaria. Escolhe um título para si mesmo, o de Don Quijote de la Mancha, apelida um cavalo velho e descarnado com o nome de Rocinante e elege como dama ideal de seus sentimentos uma simples camponesa a quem dá o nome de Dulcinea del Toboso, suposta dama de alta nobreza.

Interpretações e influências

Pintura representando Dom Quixote e Sancho Pança, por Honoré Daumier (museu do Louvre.
Pintura representando Dom Quixote e Sancho Pança, por Honoré Daumier (museu do Louvre.

A história é apresentada sob a forma de novela realista. A primeira parte da obra deixa a impressão de liberdade máxima, a segunda parte produz a sensação constante de nos encontrarmos encerrados em limites estreitos. Essa sensação é sentida mais intensamente quando confrontada com a primeira parte. Se anteriormente, a ironia era, sobretudo, uma expressão amarga da impossibilidade de dar realidade a um ideal, com a segunda parte nasce muito mais da confrontação das formas da imaginação com as da realidade. A primeira parte de Dom Quixote é tipicamente barroca. Cervantes dá a sua própria definição da obra: "orden desordenada (...) de manera que el arte, imitando à la Naturaleza, parece que allí la vence". O processo adoptado por Cervantes — a paródia — permite dar relevo aos contrastes, através da deformação grotesca, pela deslocação do patético para o burlesco, fazendo com que o burlesco apague momentaneamente a emoção, estabelecendo um entrelaçado espontâneo de picaresco, de burlesco e de emoção. O conflito surge do confronto entre o passado e o presente, o ideal e o real e o ideal e o social.

Dom Quixote e Sancho Pança representam valores distintos, embora sejam participantes do mesmo mundo. É importante compreender a visão irónica que o romancista tem do mundo moderno, o fundo de alegria que está por detrás da visão melancólica e a busca do absoluto. São mundos completamente diferentes. O fiel escudeiro de Dom Quixote é definido por Cervantes como "homem de bem mas de pouco sal na moleirinha". É o representante do bom senso e é para o mundo real aquilo que Dom Quixote é para o mundo ideal. As figuras de Dom Quixote, de Sancho Pança e do cavalo de Dom Quixote, Rocinante, depressa conquistaram a imaginação popular.

Dom Quixote e Sancho Pança, desenhados por Angelo Agostini.
Dom Quixote e Sancho Pança, desenhados por Angelo Agostini.

No entanto, os contemporâneos da obra não a levaram tão a sério como as gerações posteriores. Passou a ser vista como uma prosa épica de escárnio, em que "o ar sério e grave" da ironia do autor começou a ser bastante apreciado. O herói grotesco de um dos livros mais cómicos tornou-se no trágico herói da tristeza. Contudo, apesar de alguma distorção, a novela de Cervantes começou então a revelar a sua profundidade. Na história da novela moderna, o papel de Dom Quixote é reconhecido como seminal. A evidência disso pode ser vista em Daniel Defoe, em Henry Fielding, em Tobias Smollett e Laurence Sterne e, também, em personagens criadas por alguns romancistas clássicos do século XIX, como é o caso de Walter Scott, de Charles Dickens, de Gustave Flaubert, de Benito Pérez Galdós, de Herman Melville e de Fiódor Dostoiévski. O mesmo acontece no caso de alguns autores pós-realistas do século XX, como James Joyce e Jorge Luis Borges. Dom Quixote provou ser uma notável fonte de inspiração para os criadores em outros campos artísticos. Desde o século XVII que se têm realizado peças de teatro, óperas, composições musicais e bailados baseados no Dom Quixote. No século XX, o cinema, a televisão e os cartoons inspiraram-se igualmente nesta obra. Dom Quixote inspirou ainda artistas como William Hogarth, Francisco Goya, Honoré Daumier e Pablo Picasso. Várias interpretações foram dadas à obra. No século XVII, considerou-se que o romance continha em si pouco mais que o tom de bom humor e de diversão, com Dom Quixote e Sancho Pança a encarnarem respectivamente o grotesco e o pícaro. O século XVIII foi pródigo em elogios a Dom Quixote, não só em Espanha e em Portugal, como também por parte de grandes românticos do centro da Europa.