sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Ensaio de uma Crítica do Cristianismo

O Que levou a Nietzsche escrever o Anticristo? Sua Mente Iluminada, com certeza. Um dos grandes livros do século, uma ferrenha oposição a religião e a dogmática cristã que prega a falsificação da natureza, a deturpação das necessidades do homem, a condenação absurda imposta aos seres vivos. Abaixo alguns trechos do livros merecidos de serem lidos...


Este livro pertence aos homens mais raros. Talvez nenhum deles sequer esteja vivo. É possível que se encontrem entre aqueles que compreendem o meu “Zaratustra”: como eu poderia misturar-me àqueles aos quais se presta ouvidos atualmente? – Somente os dias vindouros me pertencem. Alguns homens nascem póstumos.

Não devemos enfeitar nem embelezar o cristianismo: ele travou uma guerra de morte contra este tipo de homem superior, anatematizou todos os instintos mais profundos desse tipo, destilou seus conceitos de mal e de maldade personificada a partir desses instintos – o homem forte como um réprobo, como “degredado entre os homens”. O cristianismo tomou o partido de tudo o que é fraco, baixo e fracassado; forjou seu ideal a partir da oposição a todos os instintos de preservação da vida saudável; corrompeu até mesmo as faculdades daquelas naturezas intelectualmente mais vigorosas, ensinando que os valores intelectuais elevados são apenas pecados, descaminhos, tentações. O exemplo mais lamentável: o corrompimento de Pascal, o qual acreditava que seu intelecto havia sido destruído pelo pecado original, quando na verdade tinha sido destruído pelo cristianismo! –

– Fui compreendido. No início da Bíblia está toda a psicologia do padre. – O padre conhece apenas um grande perigo: a ciência – o conceito sadio de causa e efeito. Mas a ciência apenas floresce totalmente sob condições favoráveis – um homem precisa de tempo, precisa possuir um intelecto transbordante para poder “conhecer”... “Logo, é preciso tornar o homem infeliz” – essa foi, em todas as épocas, a lógica do padre. – É fácil ver o que, a partir dessa lógica, surgiu no mundo: – o “pecado”... O conceito de culpa e punição, toda a “ordem moral do mundo” foram direcionados contra a ciência – contra a emancipação do homem do jugo sacerdotal... O homem não deve olhar para seu exterior; deve olhar apenas para o interior. Não deve olhar as coisas com acuidade e prudência, não deve aprender sobre elas; não deve olhar para nada; deve apenas sofrer... E sofrer tanto que sempre esteja precisando de um padre. – Fora os médicos! O necessário é um Salvador. – O conceito de culpa e punição, incluindo as doutrinas da “graça”, da “salvação”, do “perdão” – mentiras sem qualquer realidade psicológica – foram inventadas para destruir o senso de causalidade do homem: são um ataque contra o conceito de causa e efeito! – E não um ataque com punho, com faca, com honestidade no amor e no ódio! Longe disso, foi inspirado pelo mais covarde, mais velhaco, mais ignóbil dos instintos! Um ataque de padres! Um ataque de parasitas! O vampirismo de sanguessugas pálidas e subterrâneas!... Quando as conseqüências naturais de um ato já não são mais “naturais”, mas vistas como obras de fantasmas da superstição – “Deus”, “espíritos”, “almas” –, como conseqüências “morais”, recompensas, punições, sinais, lições, então torna-se estéril todo o solo para o conhecimento – e com isso perpetrou-se o maior dos crimes contra a humanidade. – Repito que o pecado, essa autoprofanação par excellence, foi inventado para tornar impossível ao homem a ciência, a cultura, toda a elevação e todo o enobrecimento; o padre reina graças à invenção do pecado.
O cristianismo nos fez perder todos os frutos da civilização antiga, e mais tarde nos fez perder os frutos da civilização islâmica. A maravilhosa cultura dos mouros na Espanha, que era fundamentalmente mais próxima aos nossos sentidos e gostos que Roma e Grécia, foi pisoteada (– não digo por que tipo de pés –). Por quê? Porque devia sua origem aos instintos nobres e viris – porque dizia sim à vida, e a com a rara e refinada luxuosidade da vida mourisca!... Mais tarde os cruzados combateram algo ante o qual seria mais apropriado que rastejassem – uma civilização que faria mesmo o nosso século XIX parecer muito pobre e “atrasado”. – O que queriam, obviamente, era saquear: o Oriente era rico... Coloquemos à parte os preconceitos! As cruzadas: pirataria em grande escala, nada mais! A nobreza alemã, que no fundo é uma nobreza de viking, estava em seu elemento com as cruzadas: a Igreja sabia muito bem como ganhar a nobreza alemã.... A nobreza alemã, sempre a “guarda suíça” da Igreja, estava ao serviço de todos maus instintos da Igreja – mas bem paga... Foi precisamente a ajuda das espadas, do sangue e do valor alemães que permitiu à Igreja fazer sua guerra de morte contra tudo que é nobre sobre a Terra! Aqui poderiam ser feitas perguntas bastante dolorosas. A nobreza alemã encontra-se fora da história das civilizações elevadas: a razão é óbvia... Cristianismo, álcool – os dois grandes meios de corrupção... Em suma, não havia mais escolha entre o islamismo e o cristianismo que há entre um árabe e um judeu. A decisão já foi tomada; não há mais liberdade de escolha aqui. Ou bem se é chandala ou bem se não é... “Guerra de morte a Roma! Paz e amizade com o islamismo!”: esse foi o sentimento, essa foi a ação do grande espírito livre, do gênio entre os imperadores alemães, Frederico II. Como? Será preciso que um alemão seja gênio, espírito livre, para possuir sentimentos decentes? Não consigo imaginar como um alemão poderia sentir-se cristão...

– Com isto concluo e pronuncio meu julgamento: eu condeno o cristianismo; lanço contra a Igreja cristã a mais terrível acusação que um acusador já teve em sua boca. Para mim ela é a maior corrupção imaginável; busca perpetrar a última, a pior espécie de corrupção. A Igreja cristã não deixou nada intocado pela sua depravação; transformou todo valor em indignidade, toda verdade em mentira e toda integridade em baixeza de alma. Que se atrevam a me falar sobre seus benefícios “humanitários”! Suas necessidades mais profundas a impedem de suprimir qualquer miséria; ela vive da miséria; criou a miséria para fazer-se imortal... Por exemplo, o verme do pecado: foi a Igreja que enriqueceu a humanidade com esta desgraça! – A “igualdade das almas perante Deus” – essa fraude, esse pretexto para o rancor de todos espíritos baixos – essa idéia explosiva terminou por converter-se em revolução, idéia moderna e princípio de decadência de toda ordem social – isso é dinamite cristã... Os “humanitários” benefícios do cristianismo! Fazer da humanitas(1) uma autocontradição, uma arte da autopoluição, um desejo de mentir a todo custo, uma aversão e desprezo por todos instintos bons e honestos! Para mim são esses os “benefícios” do cristianismo! – O parasitismo como única prática da Igreja; com seus ideais “sagrados” e anêmicos, sugando da vida todo o sangue, todo o amor, toda a esperança; o além como vontade de negação de toda a realidade; a cruz como símbolo representante da conspiração mais subterrânea que jamais existiu – contra a saúde, a beleza, o bem-estar, o intelecto, a bondade da alma – contra a própria vida...


E conta-se o tempo a partir do dies nefastus(2) em que essa fatalidade começou – o primeiro dia do cristianismo! – Por que não contá-lo a partir do seu último dia? – A partir de hoje? – Transmutação de todos os valores!...


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